No último dia 24 de julho, o Banco Mundial apresentou o relatório “Professores Excelentes: como melhorar a aprendizagem na América Latina e Caribe”. O documento, que analisa o impacto da qualidade dos docentes na educação, foi lançado no Peru, durante o Fórum Regional de Soluções em Educação.
A conclusão do estudo não é novidade. De acordo com o Banco Mundial, a baixa qualidade dos professores é a causa primeira que impede o avanço da educação na região. A pouca qualificação profissional leva, diretamente, a baixa remuneração e a métodos de ensino/aprendizagem não adequados.
Nenhum sistema escolar latino americano está perto de apresentar características dos sistemas educativos mais eficazes do mundo (*). O documento faz uma ressalva a Cuba, onde possivelmente os professores apresentam algumas dessas características. Mas, a falta de um estudo mais aprofundado nesse país não permite a afirmação categórica.
Em relação a metodologias, desde o tempo de preparação de aula, passando pelas práticas de ensino e a manutenção da atenção do aluno, todas as etapas estão comprometidas.
FORMAÇÃO – Apesar da titulação dos docentes ter melhorado nos últimos anos, o aumento do nível educacional de quem ingressa nas carreiras pedagógicas é mais fraco.

Professores com diploma de curso superior em docência – 1995 e 2012. Fonte: Banco Mundial
No Chile, os alunos que postulam ingressar nos programas de educação têm 32% menos pontos que os alunos de medicina e 23 menos que os de direito. Na Universidade de São Paulo, os alunos que entram em direito e engenharia tem pontuações 36% maiores que os que postulam programas de educação docente. Os de medicina tem pontuação 50% maior.
Esse déficit educacional pode ser explicado pela origem dos alunos. Os estudantes que cursam carreiras relacionadas com a educação são de condição sócio-econômica mais baixa e tendem a ser a primeira geração de sua família com estudos universitários.
SALÁRIOS – Em termos gerais, os docentes da região apresentaram salários entre 10 e 50% menores que de outros profissionais nas mesmas condições de formação e carga horária. Exceção apenas a México, Honduras e El Salvador, onde os professores ganham entre 20 a 30 % mais.

Salário dos professores em comparação a outros profissionais de mesmo nível – Fonte: Banco Mundial
Além disso, o plano de carreira, no quesito financeiro, não apresenta grandes variações. Os salários não aumentam muito em função da experiência, qualificação ou capacidade técnica. A compensação está na estabilidade. Os dados mostraram que os docentes graduados nos últimos 40 anos tem muito mais probabilidade de empregos que outros profissionais.
ANTES DA AULA – Em nenhum dos países, os professores dedicam o tempo recomendado para a preparação de aulas. Se usa 20% menos do tempo de preparação de aula em relação a meta estabelecida por boas práticas. Do pouco tempo que se tem, ainda se perde até 39% com atividades administrativas, como diários de classe, correção de tarefas, quando o tempo médio indicado para esse fim é de 15%.
Outro ponto interessante: o estudo identificou que os professores latino-americanos passam cerca de 10% do seu tempo de sala de aula em atividades completamente desvinculada a ela, como interações sociais (conversas na porta) e mesmo ausência completa da sala. Esse deficit representa 20 dias de aulas perdidas, numa grade de 200 dias letivos.
NA SALA – Em relação às tecnologias educacionais, o quadro negro ainda é a única ferramenta de apoio na maioria das aulas. Durante um quarto da aula, não é usado nenhum material.

Utilização de material de apoio em sala de aula – Fonte: Banco Mundial
Com isso, identificou-se também uma grande dificuldade por parte dos professores em manter a atenção dos alunos. E em todos os países, em mais da metade do tempo, havia pelo menos cinco alunos totalmente desatentos. Essa incapacidade do professor em manter a atenção do aluno na aula foi apontado como um dos fatores responsáveis pelos baixos resultados de aprendizagem.

Porcentagem do tempo de aula em que os alunos prestam atenção – Fonte: Banco Mundial
Segundo o presidente do Banco Mundial. “Temos evidências sólidas de como melhorar a qualidade do aprendizado. Precisamos de professores bem capacitados e valorizados.”. Assim, baseado na experiência dos países modelo em educação, o estudo apresenta três propostas para melhorar a qualidade docente.
PROPOSTAS – O caminho é desenvolver e motivar os profissionais. Esse processo precisa de intervenção em áreas como remuneração e programas de formação e seleção. Para Soledad de Gregorio, pesquisadora do estudo, as principais formas pelas quais podemos melhorar a qualidade de ensino são:
Recrutar os melhores candidatos e colocá-los em programas de formação docente. “Esse é provavelmente o ponto mais complicado para países da América Latina e do Caribe, porque exige aumentar a atratividade e o prestígio da profissão, bem como aumentar a seletividade e a qualidade dos programas de formação do professor”, complementou a pesquisadora.
Treinar e desenvolver as habilidades dos professores. Isso inclui: apoiá-los durante os primeiros anos de ensino, avaliar periodicamente seu desempenho, capacitá-los para resolver suas fraquezas e fazer uma gestão eficaz da alocação de professores em escolas e cursos.
Motivar professores para que trabalhem da melhor forma possível durante a carreira, por meio de incentivos profissionais, financeiros e de responsabilidade pelo seu desempenho.
O solução é de longo prazo. “Anos de trabalho de bons professores podem reduzir os déficits de aprendizagem e com dados, podemos criar políticas que realmente funcionem”, concluiu Claudia Costin, diretora sênior de Práticas Globais de Educação do Banco Mundial.
Esse é considerado estudo internacional de maior escala, desse tipo, já realizado. Ele analisou dados de mais de 15 mil salas de aula, 3 mil escolas em toda a América Latina (e Caribe).
Fontes: Professores Excelentes: como melhorar a aprendizagem na América Latina e Caribe e WebConference – Que nota você daria aos professores do seu país – Banco Mundial
(*) Países com sistemas de educação considerados mais eficientes do mundo: Finlândia, Singapura, Xangai (China), República de Coreia, Suíça, Países Baixos e Canadá.

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